A atenção fascinada recebe, por vezes, outros nomes, mas
sempre gostei desta terminologia, talvez pela associação com o “estado de
fascínio” (praticamente o mesmo que “estado de fluxo”).
De que se trata? Este tipo de atenção corresponde a um
estado de focalização intenso, seletivo, com exclusão de outros pontos de
interesse (áreas negligenciadas) pois a nossa concentração fica “prisioneira”
apenas de um alvo que tanto pode ser um acontecimento como uma pessoa, um filme
ou uma série de pensamentos em colmeia.
O que são “pensamentos em colmeia”? Eu chamo “pensamentos em
colmeia” a todos aqueles que giram em torno de um tema. É difícil isolarmos um
pensamento e quando pensamos em algo (ou em alguém) há sempre outros
pensamentos que se juntam ao primeiro e formam então a “colmeia”.
Quando são
patológicos (como nos pensamentos depressivos) eles tornam-se “ruminantes” pois
a pessoa não pensa noutra coisa, de forma insistente e consistente. Infelizmente,
não são pensamentos felizes devido ao estado emocional do doente depressivo.
Voltando à atenção fascinada. Ela acontece muitas vezes por
dia em crianças. Surge quando estão focalizadas em algo de forma tão intensa e
feliz que negligenciam e até esquecem tudo à sua volta. Estão “vidradas” (como
se diz em Portugal), quase, ou mesmo, em transe hipnótico (penso que chegam,
muitas vezes, a estar nesse nível).
A nós, adultos, acontece o mesmo mas em menor quantidade
pois a nossa vida dá-nos pouco espaço de manobra (e tempo) para entrarmos em
estado de atenção fascinada. Ela acontece nos chamados “estados de fluxo” em
que ficamos tão maravilhosamente concentrados em algo que, naqueles momentos,
nada mais existe no mundo, nem nós mesmos, pois a consciência do EU, afasta-se
e ficamos num estado desprendido, quase como na meditação profunda (só que é
diferente).
A atenção fascinada tem uma vantagem e uma desvantagem (pelo
menos). A vantagem que destaco é que ela é altamente relaxante para a mente
pois permite-nos usufruir de uma liberdade única. É um “estado de graça”. É
puro fascínio.
A desvantagem é que essa atenção fascinada pode conduzir-nos a
decisões precipitadas como, por exemplo, repetir a experiência (nem sempre
desejável) ou adquirir o objecto do fascínio (só pensamos nisso a partir desse
momento e, por vezes, obsessivamente). Esta atenção fascinada acontece também
nos shopping centers e os técnicos de marketing sabem induzi-la nos
consumidores. Com a atenção fascinada ligada nós acabamos por nos entusiasmar
com produtos que depois só nos resta adquirirmos.
Quando nos apaixonamos verdadeiramente, passamos também por
este tipo de atenção ao focalizarmo-nos na pessoa amada. Estamos fascinados com
ela. Até entramos em transe sobretudo quando é o primeiro amor.
Quando o fascínio acaba, entramos noutra sintonia de
atenção. É que eu ainda não disse que a atenção fascinada tem os seus limites
de tempo. Apesar de prazerosa ela exige bastante do cérebro. Voltando ao
exemplo das crianças, reparem que elas ficam horas a brincar com coisinhas
simples mas depois mudam de assunto. E nós, adultos, também fazemos o mesmo. A
atenção concentrada (fascinada ou não) consome bastante energia.
Seja como for é um dos estados fantásticos de consciência
que todo o ser humano pode e deve experimentar. Para bem da sua saúde
(sobretudo emocional).
Deixe-se, pois, maravilhar! Há muitas coisas fascinantes na
vida que merecem a nossa atenção.
Nelson S. Lima