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Autor: Nelson S. Lima (clique na imagem)

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Ser filho único é como que sinónimo de egoísmo?



Ser filho único é como que sinónimo de egoísmo?
De maneira alguma!. Ser filho único tanto pode apresentar-se como uma experiência gratificante como decepcionante (para o próprio e para os outros). Ou nem uma coisa nem outra. Primeiro, os sentimentos relacionados com a condição de ser filho único dependem da personalidade (sobretudo da estrutura emocional adquirida através da família) e da qualidade dos laços estabelecidos com os outros (familiares, amigos, etc.). Segundo, ser filho único é cada vez mais uma realidade frequente devido ao decréscimo dos índices de natalidade, o que faz com que o próprio a encare de forma natural. Finalmente, o egoísmo, se for entendido como sinónimo, não tem de ser forçosamente um mal em si mesmo desde que temperado com princípios, valores e grandeza de carácter (e aqui a educação tem um papel a dizer).

Nas conversas entre amigos, é comum ouvirmos o comentário «é filho único», como justificação de comportamentos caprichosos, mimados ou egocêntricos. Mas serão estas características comuns a todas as crianças que crescem sem irmãos?
- O problema reside na educação recebida dos pais ou com quem o "filho único" estabeleça os primeiros vínculos afectivos. Os perigos vêm do excesso de protecção e de atenção que podem adulterar a formação inicial da personalidade da criança (a chamada personalidade aprendida). Nestes casos, criam-se matrizes (códigos) mentais que podem fazer despontar atitudes e comportamentos marcados por egocentrismo exacerbado, sentimentos de grandeza, narcisismo e outras perturbações. Não podendo repartir a sua atenção por outros filhos - que, geralmente, têm personalidades e naturezas diferentes - os pais tendem a "mimar" o filho único e a colocá-lo num pedestral ou então numa "redoma de vidro". O perigo mais frequente verificado neste tipo de reacção dos pais é o desenvolvimento de uma personalidade desequilibrada no filho único (desde afectividades inseguras, personalidades ansiosas e medos até reacções impulsivas, condutas agressivas e despóticas, etc.).

Os filhos únicos podem também ser mais tímidos e introvertidos?
- Sim e não. A situação depende da matriz inicial da personalidade onde se destaca o temperamento (determinado em grande medida pelos genes) e outras características inatas. O tipo de laços afectivos dos primeiros anos, a natureza das relações entre as pessoas que cuidam da criança (geralmente os pais mas também os avós e outras pessoas próximas) e o ambiente vão ter um papel importante na definição e na expressão dos traços de personalidade. Enquanto a introversão como a extroversão têm uma forte componente biológica, a timidez resulta mais das experiências de vida nos primeiros anos. É fácil tornar uma criança tímida e amedrontada mas isso é um crime educacional que não pode ser autorizado. Pelo contrário deve incutir-se na criança sentimentos seguros que equilibrem a auto-estima, a auto-imagem e a auto-comfiança.

Os exageros da superprotecção são mais comuns por parte dos pais, relativamente a filhos únicos?
- Isso depende dos pais em conjunto e de cada um em particular. Sabemos que pai e mãe exercem influências distintas nos filhos. Devemos também ter em consideração que, actualmente, as crianças passam muito mais tempo com as educadoras de infância, os professores e os colegas da escola. Esses agentes também exercem, por vezes de forma poderosa e irreversível, uma marcante influência no desenvolvimento mental e afectivo das crianças. Os filhos únicos tendem, por vezes, a procurar apoio (e afecto) nesses agentes já que pouco tempo passam com os pais, em especial a mãe (que hoje trabalha e pouco tempo tem para dar uma "atenção de qualidade" aos filhos). A superprotecção decorre, por vezes, de um sentimento de culpa. Sabendo que não podem dar uma afectividade segura e equilibrada os pais caem em respostas exageradas como oferecerem presentes e um sem-número de confortos e facilidades ao filho.

O desenvolvimento da motricidade e da linguagem é iniciado mais cedo no caso das crianças com irmãos mais velhos?
- Havendo irmãos mais velhos observa-se mais frequentemente uma interacção multifocal (afectiva, mental, motriz, etc.) que ajuda ao desenvolvimento cognitivo e motor. Essa interacção é muito importante pois promove o desenvolvimento de estratégias mentais para a resolução de problemas (brincadeiras, disputas, conflitos de interesse, concorrência, etc.).

Criar um filho único pode tornar-se um desafio maior do que gerir uma família numerosa?
- Talvez gerir uma família numerosa seja mais difícil pelos esforços que a diversidade de personalidades e de interesses exige. Compreender essas diferenças e estabelecer laços afectivos entre todos e ao mesmo tempo gerir conflitos e disputas sem que a família sofra deslizes e entre em ruptura (o que muitas vezes acontece nas famílias numerosas) será, porventura, mais complexo do que atender a uma família nuclear mais reduzida. Os problemas são menores e o stress é igualmente menor, excepto nos casos de relações familiares disfuncionais.

O papel de educadores e professores é mais importante na educação destas crianças?
- É muito importante. Numa primeira fase, os adultos próximos (com vivências diárias com a criança) podem exercer uma fortíssima influência na regulação emocional e no despertar de possibilidades de crescimento como ser humano. Mais tarde, com o início da adolescência, serão os colegas e os amigos quem terão maior poder de influência nas matrizes de pensamentos e crenças adquiridas, determinando os percursos do comportamento e as escolhas (modas, tiques, preferências, etc.). Por isso é que os comportamentos desviantes surgem na adolescência e não na infância. Para evitar tais situações é absolutamente imprescindível que o ambiente familiar nos primeiros anos encoraje a inteligência, os valores morais, as regras sociais, o equilíbrio emocional e as bases do bom carácter. Servirão, mais tarde, como alicerces que defenderão toda a estrutura da personalidade ajudando as crianças a saberem pensar por si e a saberem fazer opções inteligentes e autónomas.

Qual a melhor forma de lhes transmitir bom senso e a imposição de limites?
- As crianças aprendem muito através da imitação. O que observam (em casa, na televisão, na rua, na escola, etc.) tende a ficar vincado na memória e influenciar as decisões e os comportamentos. A imposição de regras e normas de vida equilibradas, dentro e fora de casa, fortalecem os códigos da personalidade das crianças. Boas maneiras e estilos de vida saudáveis são mais eficazes do que lições de moral e repreensões!

Tornar um filho único numa criança responsável, sociável e com uma elevada auto-estima depende de que factores educativos?
- Totalmente. Deve, porém, ter-se presente que a educação deve ser libertadora dos recursos (como a inteligência) e das potencialidades (como a criatividade) e não castradora das possibilidades de sucesso (sempre em aberto) quando se torna repressiva, autoritária ou instável. A decisão de se ser pai ou ser mãe deve obrigar cada um a uma reflexão séria sobre a tremenda responsabilidade que essa condição impõe.

Nelson S Lima