Um dos grandes contributos do psicólogo Howard Gardner para
a nossa compreenção da diversidade da natureza humana foi a sua teoria das
Inteligências Múltiplas. Ele nos fez ver que a inteligência humana não podia
ser entendida plenamente senão através de uma visão multifocal da mesma. Na
altura ele proclamou que havia 7 inteligências distintas tais como a
inteligência lógico-matemática, a inteligência musical ou a inteligência
social. Cada ser humano teria então diferentes "habilidades" naturais
que influenciavam a sua prestação profissional, social, etc. Mais tarde ele
descobriria outras inteligências.
O que importa aqui salientar é o facto de cada ser humano
nascer com potencialidades distintas, mesmo no domínio da inteligência que já
não fica limitada ao valor de um Q.I. mas que se pode exprimir através de
diferentes possibilidades, aptidões e talentos. O Q.I. deixou de servir como
artefacto de diferenciação pois se uma pessoa pode ser exímia no raciocínio
analítico e matemático outra pode revelar-se de forma notável na produção
criativa e artística.
Infelizmente e apesar de já terem passado muitos anos sobre
a divulgação da teoria das inteligências múltiplas, as nossas escolas continuam
a ignorar tudo isso. Aliás, poucos professores conhecem inteiramente aquela
teoria e muitos menos a sabem aplicar. E nem podem. Não podem porque o ensino ainda
está cada vez mais massificado, desrespeitando a natureza distinta do intelecto
de cada aluno.
De forma que todos aprendem o mesmo e, pior ainda, aprendem
muito mal. Aprendem por via da recepção passiva de conhecimentos que os
professores metodicamente transmitem, repetindo em cada época escolar as mesmas
coisas às novas turmas de alunos que vão chegando dos anos anteriores.
Isto leva a uma situação muito dramática: o desrespeito
pelos talentos particulares de cada aluno e a imposição de um ensino unifocal,
engessado, memorativo, passivo e repetitivo. A escola, em vez de formar
pensadores, arrasa com a inteligência dos alunos, torna-os repetidores de
frases feitas, nomes, datas, definições, por vezes retrógradas sobre o Mundo.
Augusto Cury, também muito sensível a este problema, escreve
que isto trouxe "duas das maiores drogas da inteligência humana: a
massificação da cultura e do pensamento". Estas "drogas",
"não conseguem jamais conter a diversidade de pensamentos" que existe
em toda a humanidade "mas engessa a liberdade, a plasticidade, a
criatividade da construção multifocal dos pensamentos, encerrando a
inteligência humana num cárcere". Isto conduz ao que A. Cury chama de
"mal do logos estéril".
Que síndrome é esta? Cury define-o como doença social com
sintomas bem determinados: a vítima torna-se num espectador passivo daquilo que
aprende por transmissão; incorpora os novos conhecimentos sem prazer, sem
crítica, sem desafio, sem aventura; vê sua capacidade de pensar reduzida e de
criar; diminui a sua consciência política e social; utiliza o conhecimento
adquirido apenas como ferramenta profissionalizante para fins próprios (ganhar
dinheiro, por exemplo).
Nelson S Lima